O eleitor está cansado dessa eleição que começou há mais de quatro anos. Muitos só querem que acabe

Era um grupo de alunos de um curso que nada tem a ver com política no Whatsapp. Uma das regras sempre foi não publicar nada sobre política para evitar discussões. Há alguns dias, um dos integrantes enviou um vídeo sobre a crise no mercado da Argentina. Alguém, quase no automático, escreveu em seguida: “governo de esquerda”.

Foi o suficiente para que, em poucos minutos, mais de 300 mensagens surgissem na tela. Quase todas eram revoltas pelo tema ter sido tratado naquele ambiente. O conteúdo das mensagens indignadas é que chama atenção. Nenhuma discutia o mérito da afirmação e quase todas exibiam um cansaço, um esgotamento com o tema “eleições”.

Entende-se: o Brasil está em campanha eleitoral há quatro anos e alguns dias, com uma pandemia no meio. Sem falar na Lava Jato e no impeachment antes disso.

E a própria pandemia foi palco de disputa política, porque o estresse e a tensão com a doença foram conduzidos por mobilizações de quem era a favor ou contra Bolsonaro (PL).

Presa em casa por questão de sobrevivência, a população ia às janelas para aplaudir ou bater panelas em manifestações políticas. Não houve descanso, não houve meditação sobre o momento, houve briga e mais briga.

A discussão começava na proximidade. De 2018 para cá, por causa do clima bélico que se criou, da ideia de que existe um “bem e um mal”, entre adjetivos que vão de “genocida” a “bandido”, dependendo de que lado você esteja, as brigas atingiram as famílias.

Filhos, pais, irmãos, brigando com suas visões de mundo que, por pobreza de aprofundamento, limitam-se a abraçar um Bolsonaro ou um Lula (PT) como extensão de sua existência. Dois símios, como diz muito bem o cientista político português João Fernando Coutinho, ao criticar brasileiros que idolatram políticos: “símios cheios de defeitos adorando símios cheios de defeitos como se fossem deuses”.

E, nesse caso, os símios candidatos provocam intrigas entre pessoas que deveriam se unir e se entender, família. Sem falar no clima de guerra que se instalou, provocando até mortes. Não é por acaso que quase 70% da população declarou, na última pesquisa Datafolha, que tem medo da violência política.

Em outro caso, também presenciado por este colunista, há alguns dias, um homem exaltado constrangia a caixa de um hipermercado no Recife. Falando alto, para ser ouvido por todos, enquanto pagava a conta da feira, perguntava em quem ela ia votar, dizia que um dos candidatos era bandido e que ela, a moça, “tinha cara de quem ia votar nele”.

A funcionária, que não o provocou em momento algum, ignorou e chamou o próximo cliente. O sujeito foi embora, ainda se fazendo ouvir por todos.

Há um clima de provocação e tentativa de constrangimento do pensamento alheio. O que se está destruindo nos últimos anos no Brasil é a liberdade das pessoas para dizerem o que pensam sem serem agredidas ou constrangidas.

Todo debate se tornou agressivo, porque todos acreditam ter o império da razão absoluta. E se criou um tipo de ojeriza a quem não comunga do mesmo pensamento, como se o constrangimento e a raiva pudessem mudar uma opinião. Uma estupidez.

Frase popular diz que “em casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão”. Analisando o ditado do fim pro começo, já que estamos todos brigando há anos e, acreditem, ninguém tem razão, precisamos descobrir que pão está faltando nesta casa, além do pão de verdade.

Do JC

Everaldo

Licenciado em Física pelo Instituto Federal do Sertão Pernambucano. Professor de matemática e física do Ensino fundamental e médio da rede estadual de Pernambuco. Jornalista registrado sob o número 6829/PE, o blogueiro Everaldo é casado com Amanda Scarpitta e pai de duas filhas lindas, Kassiane e Kauane. O foco principal do blog é informação com responsabilidade e coerência, doa a quem doer!

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