Todos os presidentes vivos desde 1985 aparecem nas delações premiadas de executivos da Odebrecht.
As delações premiadas de executivos da Odebrecht citaram algumas das figuras mais importantes da política recente no Brasil, mas nem todas já são alvos de inquéritos na Justiça. Uma das suspeitas mais comuns é a de receber ou cobrar propinas da construtora para campanhas eleitorais em troca de favores políticos. Veja a seguir quais são as suspeitas sobre os principais nomes que apareceram durante as investigações.
Michel Temer (PMDB), presidente da República
Com “imunidade temporária”, o presidente não pode ser investigado por crimes que não aconteceram no exercício do mandato. A Procuradoria-Geral da República (PGR) não o incluiu na “lista do Janot”, e por consequência ele também não é alvo de inquérito da “lista de Fachin”, embora seja citado em 2 deles.
Suspeitas
- Ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria diz que participou, em 15 de julho de 2010, de uma reunião comandada por Michel Temer na qual foi discutida a “compra do PMDB” por US$ 40 milhões.
- Marcelo Odebrecht disse que um jantar no Palácio do Jaburu com o então vice-presidente, em 28 de maio de 2014, foi como um “shake hands” (apertar de mãos, em inglês) para um acerto no valor de R$ 10 milhões da empreiteira para o PMDB.
- Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empreiteira, afirmou que no mesmo jantar Temer solicitou “direta e pessoalmente” a Marcelo Odebrecht apoio financeiro para as campanhas do PMDB em 2014.
- Em declarações feitas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em março, Marcelo Odebrecht também disse ter pago R$ 150 milhões à chapa Dilma-Temer na campanha de 2014.
O que diz Temer
O presidente Temer divulgou vídeo na quinta-feira (13) no qual confirmou ter reunido com um delator da Odebrecht, mas acrescentou que, no encontro, não discutiu valores nem “negócios escusos” da empreiteira com políticos.
“É fato que participei de uma reunião em 2010 com representante de uma das maiores empresas do país. A mentira é que nessa reunião eu teria ouvido referência a valores financeiros ou a negócios escusos da empresa com políticos. Isso jamais aconteceu. Nem nessa reunião nem em qualquer outra reunião que eu tenha feito ao longo de minha vida pública com qualquer pessoa física ou jurídica. Jamais colocaria a minha biografia em risco”, disse.
“O verdadeiro homen público tem que estar à altura dos seus desfios que envolvem bons momentos e momentos de profundo desconforto. Minha maior aliada é a verdade, matéria-prima do Poder Judici[ário, que revelerá toda a verdade dos fatos”, acrescentou.
Dilma Rousseff (PT), ex-presidente
A ex-presidente Dilma é citada em depoimento sobre repasse de caixa 2 e irregularidades no relacionamento entre o governo federal e a Odebrecht. Como a ex-presidente não tem mais foro privilegiado, as informações foram enviadas para outras instâncias, que devem decidir se abrem investigações para apurar as informações das delações premiadas.
Suspeitas
- Alexandrino de Alencar, ex-executivo da Odebrecht, citou pagamentos indevidos para a campanha presidencial de 2014. O dinheiro de caixa 2 teria sido pago por intermédio do assessor Manoel Sobrinho, a pedido de Edinho Silva, que foi tesoureiro da petista.
- Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, disse que pagou R$ 150 milhões para campanhas de 2010 e 2014 e afirmou que ela tinha conhecimento do “apoio”.
- Em declarações feitas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em março, Marcelo Odebrecht também disse ter pago R$ 150 milhões à chapa Dilma-Temer na campanha de 2014.
O que diz Dilma
Na noite da terça-feira (11), quando foi divulgada a “lista de Fachin”, a ex-presidente divulgou uma nota. “A presidenta eleita Dilma Rousseff vem sendo vítima de vazamentos seletivos e direcionados há meses, sem que sequer saiba do que está sendo acusada. Mais uma vez, sabe pela imprensa.”
Em março, a ex-presidente divulgou nota na qual disse ser “mentirosa” a informação de que “teria pedido recursos ao senhor Marcelo Odebrecht ou a quaisquer empresários, ou mesmo autorizado pagamentos a prestadores de serviços fora do país, ou por meio de caixa dois, durante as campanhas presidenciais de 2010 e 2014.”
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ex-presidente
O ex-presidente Lula é citado em 6 petições enviadas à Justiça Federal do Paraná pelo relator da Lava-Jato no STF, Edson Fachin. Os documentos não mencionam valores, datas e os crimes supostamente cometidos.
- 8 executivos relatam que a Odebrecht teria custeado despesas do ex-presidente, como reformas em um sítio em Atibaia (SP), aquisição de imóveis para uso pessoal, instalação do Instituto Lula e pagamentos de palestras.
- Emílio Odebrecht disse que a reforma no sítio em Atibaia (SP) custou cerca de R$ 700 mil.
- Hilberto Mascarenhas e Alexandrino Alencar revelaram o pagamento de uma “mesada” a Frei Chico, irmão de Lula.
- Lula se comprometeu a intermediar conversas com a então presidente Dilma. Em troca, a empreiteira apoiaria empresas do filho do ex-presidente, Luís Cláudio Lula da Silva.
- Atuação em favor da Odebrecht na edição de medida provisória que excluía o Ministério Público Federal dos acordos de leniência e em obras da empreiteira em Angola.
- Marcelo Odebrecht disse que destinou milhões ao “amigo”, codinome referente a Lula. Ele cita primeiro R$ 35 milhões, depois fala em R$ 40 milhões. O acerto teria sido feito com o ex-ministro petista Antonio Palocci, não diretamente com Lula.
- Marcelo Odebrecht também afirmou que Lula saiba de caixa 2 em campanhas eleitorais, mas que nunca teve negociação direta com ele.
O que diz Lula
Em entrevista a uma rádio, Lula disse que não vai “rir, nem chorar” diante das denúncias, mas que vai ler cada peça do processo junto com seus advogados e exigir provas.
“Até compreendo que o Marcelo (Odebrecht) está preso há dois anos, até compreendo que ele tem família fora, que ele deve estar comendo o pão que o diabo amassou, que talvez ele esteja tentando criar condições para sair da cadeia”, declarou Lula.
Lula disse ainda que, se a construtora decidiu dar R$ 5 mil ao irmão dele, “é problema da Odebrecht”.
“Eu continuo desafiando qualquer empresário brasileiro, qualquer empresário, a dizer que um dia o Lula pediu R$ 10 pra ele ou alguém. Se alguém pediu em meu nome, a pessoa que pediu tem que ser presa, porque eu nunca autorizei ninguém a pedir dinheiro em meu nome”, afirmou.
O Instituto Lula afirmou que todas as doações à entidade foram feitas com os devidos registros e nota fiscal, dentro da lei e já foram informadas para a Operação Lava Jato pelo próprio instituto no fim de 2015.
O instituto afirma ainda que Lula jamais solicitou qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou para qualquer outra empresa e sempre agiu dentro da lei antes, durante e depois de ser presidente da República democraticamente eleito por 2 mandatos.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ex-presidente
O ministro do STF Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato, encaminhou à Justiça de São Paulo petição para investigar as acusações sobre o ex-presidente FHC nas delações da Odebrecht. No documento, não há informações sobre valores.
- Emilio Odebrecht, patriarca do grupo empresarial, relatou “pagamento de vantagens indevidas, não contabilizadas, no âmbito da campanha eleitoral” do tucano à Presidência da República em 1993 e 1997.
O que diz FHC
Em vídeo publicado no Facebook, FHC disse que ainda não conhece o teor das declarações de Odebrecht, mas que vai esclarecer “tudo”. “Mas digo: é importante ir até o fundo das questões. O Brasil hoje precisa de transparência, e a Lava Jato está colaborando para que se coloquem as cartas na mesa. Vamos colocá-las. Eu não tenho nada a esconder nem a temer”, afirmou.
Fernando Collor (PTC), ex-presidente e atual senador
As delações da Odebrecht acrescentaram uma investigação à lista do ex-presidente Collor, que é alvo de um total de 6 inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Ele é o único ex-presidente citado pelos executivos que ainda tem foro privilegiado. Em outros inquéritos no STF, Collor é acusado de ter recebido propina da BR Distribuidora, empresa da Petrobras.
- Dois executivos da Odebrecht disseram que Collor recebeu R$ 800 mil não contabilizados para sua campanha eleitoral em 2010, pagos pelo Setor de Operações Estruturadas do grupo.
- Na lista de políticos beneficiados por propinas, Collor era assinalado com o apelido “Roxinho”. Em troca do dinheiro, ele defenderia principalmente interesses da empresa na área de saneamento básico.
O que diz Collor
Por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa, o senador negou “de forma veemente haver recebido da Odebrecht qualquer vantagem indevida não contabilizada na campanha eleitoral, de 2010”.
José Sarney (PMDB), ex-presidente
O nome de ex-presidente e ex-senador aparece 3 vezes como um dos beneficiários de contratos na execução da Ferrovia Norte-Sul, em Goiás, segundo colaboradores da Odebrecht. As informações sobre Sarney foram encaminhadas à Justiça de Goiás.
- Pedro Leão Neto e João Ferreira relataram que, em 2008 e 2009, houve pagamento de propina a agentes públicos pela participação na construção da Ferrovia Norte-Sul. Eles citaram 4% do valor do contrato, sendo que 1% seria destinado ao grupo político de José Sarney, representado por Ulisses Assada, diretor de engenharia da empresa responsável pela obra.
O que diz José Sarney
Os advogados do ex-presidente negam o pagamento de propina e dizem que Sarney não é citado diretamente, mas apenas uma pessoa que seria ligada a ele.