O Bob Jeff já disse que compartilha as mesmas “convicções cristãs e democráticas de Bolsonaro”
Roberto Jefferson quase implodiu o governo do PT em 2005, ao delatar o esquema de compra de votos que ficaria conhecido por mensalão. Hoje, o ex-deputado atirou contra policiais federais que tentavam cumprir mandado de prisão expedido por Alexandre de Moraes. O efeito da ação criminosa de ‘Bob Jeff’ na reeleição de Jair Bolsonaro será conhecido daqui a uma semana.
Disse compartilhar da mesmas “convicções cristãs e democráticas de Bolsonaro” e que seu sonho era filiá-lo ao PTB. Em vídeo, gravado hoje após ter lançado granadas de efeito moral contra a viatura da PF, Jefferson convocou apoiadores de Bolsonaro a pegarem em armas para lutar contra a “opressão do STF” e “colocar de pé novamente a cruz de Cristo”.
Misturar política e religião nunca deu certo. Emprestar apoio a quem tem um parafuso a menos também não. Para evitar novos episódios de violência, é preciso acabar com a idolatria. Como escreveu Luiz Felipe Pondé, “pessoas que se julgam salvadoras do mundo são basicamente de dois tipos: autoritárias ou infantis”. Evite armá-las ou elegê-las.
Ciente da repercussão negativa, o presidente buscou se distanciar do ex-aliado logo nas primeiras horas. Numa live da campanha, chegou a dizer que nunca havia tirado foto com Jefferson, mas a mentira foi facilmente desmontada pelo Google. Bolsonaro então gravou um vídeo chamando-o de ‘bandido’ e, desmentiu qualquer participação do ex-parlamentar em sua campanha.
O ex-deputado, de fato, nunca teve espaço no governo, mas foi acolhido com entusiasmo pela ala ideológica do bolsonarismo — que nunca foi censurada pelo presidente da República. Até poucas horas atrás, seus integrantes ainda usavam a aparente loucura de Jefferson para engajar a militância contra o TSE, disseminando vídeo de sexta-feira em que o ex-deputado chamou Cármen Lúcia de ‘prostituta’, por ter votado a favor da censura de canais que defendem a reeleição do presidente.
Jefferson deve a essa mesma turma sua reabilitação política, após o ostracismo dos tempos de cadeia pelos crimes do mensalão e da depressão que vivenciou por causa do longo tratamento contra o câncer. Há dois anos, durante entrevista ao programa Gabinete de Crise, ele próprio me confidenciou ser profundamente grato ao bolsonarismo, entoando um discurso messiânico (e malcriado) antiestablishment.
Texto: O Antagonista