Seria um recado das urnas amazônicas: Soma do total de abstenções, brancos e nulos é superior às votações do governador eleito
A eleição suplementar para governador do Amazonas, domingo passado, traz um dado estarrecedor que pode ser um aviso do eleitorado para se repetir nas eleições do próximo ano em todo o País: o número de eleitores que não compareceram às urnas, somados aos votos brancos e nulos, foi de mais de um milhão de pessoas, o que significa quase 50% das pessoas aptas para votar no Estado.
A soma do total de abstenções, brancos e nulos é superior às votações do governador eleito, Amazonino Mendes (PDT), e do candidato derrotado, Eduardo Braga (PMDB). No total, foram 70.441 (4,06%) votos brancos, 342.280 (19,73%) nulos e 603.914 (25,82%) abstenções, somando 1.016.635 (49,61%). Amazonino teve 782.933 votos (59,21%) e Braga, 539.318 (40,79%).
Nas eleições de 2016, o número de eleitores que não compareceram às urnas no segundo turno das eleições municipais, somado aos votos brancos e nulos, foi de aproximadamente 10,7 milhões de pessoas – ou 32,5% do eleitorado. À época, o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, disse que não se deve supervalorizar o número de ausentes, já que “impropriedades” podem ser encontradas na contagem dos eleitores.
“Onde tem biometria, temos índice menor de abstenção. Pessoas que mudam de cidade sem mudar o domicílio eleitoral, isso acaba contaminando os dados”, afirmou. De acordo com o ministro, o cadastro da Justiça Eleitoral não excluía eleitores que faleceram desde maio daquele ano. “Não está atualizado”, explicou Mendes. Para ele, é equivocada a avaliação de que o elevado índice de abstenções se deve ao fato de o voto ser obrigatório. “Não há dificuldade para fazer justificativa. A multa que se aplica é quase simbólica, está em R$ 3”, afirmou.
Gilmar, na verdade, não quer enxergar uma dura realidade: o desencanto do eleitorado com o processo político brasileiro. O que ocorreu no Amazonas, fruto da apatia, do desapontamento e da enorme frustração do eleitorado daquele Estado com a classe política, tende a ser repetir com igual intensidade nas eleições para presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual em 2018.
O povo cansou de ser enganado, não tem mais paciência de ligar a televisão e só se deparar com escândalos, com verdadeiros assaltos aos cofres públicos. Raros são os políticos, hoje, que ainda merecem crédito neste País. Estes, infelizmente, acabam pagando um preço caro, porque o nojo se generaliza. O Amazonas pode ser apenas um pingo de água no oceano de insatisfação que deve brotar das eleições 2018. O brasileiro perdeu não apenas a crença nos políticos, mas, sobretudo, o respeito, o que é muito mais grave.