Na ‘Copa da Educação’, Brasil levaria ‘surra’ da Suíça e perderia da Sérvia
Na Copa do Mundo, o Brasil garantiu, com uma rodada de antecipação, vaga nas oitavas de final. Mas, se você trocar “futebol” por “educação”, a história muda (e para pior): a seleção seria eliminada ainda na primeira fase. Considerando os quatro times de Grupo G, ficaríamos atrás da Sérvia e da Suíça (neste último caso, possivelmente, com direito a um novo 7 a 1) e superaríamos somente Camarões.
Para elaborar essa tabela, o g1 levou em conta pesquisas e índices internacionais sobre remuneração de professores, desempenho dos alunos em avaliações oficiais, porcentagem de crianças e jovens matriculados em escolas e expectativa de anos de estudo.
Entenda abaixo por que o “esquema tático” brasileiro nos levaria apenas ao 3º lugar na nossa chave, na “Copa da Educação”.
Qualidade de vida dos alunos: Suíça é campeã com folga
Considerando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede a qualidade de vida da população a partir de taxas de alfabetização, de matrícula, de longevidade e de renda, a Suíça seria campeã sem basicamente precisar entrar em campo: ela é líder mundial nesse quesito, com 0,982 (quanto mais perto de 1, melhor o IDH).
Em Camarões, alunos estudam em média por 6,2 anos. Ideal é média por volta de 12 anos. — Foto: Arte/g1
Os camaroneses, em 151º lugar no ranking mundial, ficariam na lanterna da nossa chave, com um desempenho apontado como “trágico” por Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Fatores sociais como mortalidade infantil, saneamento básico, fome e desnutrição impedem que as crianças tenham acesso à educação. É um país rural: elas acabam indo para a lavoura”, afirma.
Paz acrescenta ainda que os camaroneses têm “uma dinâmica perversa” de exigir que os alunos do ensino primário paguem pelos livros e uniformes, mesmo na rede pública.
Já a Sérvia, embora enfrente um quadro preocupante de desigualdade (só 9% dos alunos pobres de 3 a 5 anos estão na escola, versus 82% dos ricos), parte de um ponto muito superior ao do Brasil. “Quando fazem reformas para melhorar os índices de desempenho, têm como parâmetro o padrão europeu, não o nosso”, explica Paz.
Desempenho dos alunos: Brasil leva ‘goleada’ em matemática
Na edição mais recente (2018) do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que avalia o desempenho escolar de alunos de 15 anos de 79 países, 68% dos brasileiros que fizeram a prova não seriam “escalados” para a “Copa da Educação”: não atingiram nem o patamar básico de conhecimentos em matemática.
Na Suíça, esse índice é de 16,8%, e na Sérvia, de 39,7%.
No Brasil, mais de 60% dos alunos de 15 anos tiveram o desempenho mínimo em matemática no Pisa — Foto: Arte/g1
Em Camarões, país que não participa do Pisa, não há dados recentes sobre aprendizagem. Mas, para se ter uma ideia das dificuldades enfrentadas pelo país, a Unesco mostra que, em 2022, mais de 1,5 milhão de crianças necessitavam de um suporte educacional por terem sofrido com a violência, os deslocamentos forçados, os ataques às escolas e a má administração do governo.
Além disso, na região que faz fronteira com a Nigéria, há uma influência significativa do grupo radical islâmico Boko Haram, que tenta implementar o ensino exclusivamente religioso nas escolas.
“Nossa situação é dramática aqui no Brasil, mas menos do que em Camarões. Os nossos piores índices locais são comparáveis à média geral registrada pelos camaroneses”, afirma o pesquisador da FGV.
Permanência no ensino médio: 97% na Suíça e 36% em Camarões
Durante o ensino médio, a necessidade de entrar precocemente no mercado de trabalho, as dificuldades financeiras e a falta de perspectiva levam jovens a uma “eliminação precoce” da “Copa da Educação”.
Segundo os dados mais recentes do Banco Mundial, de 2019 (de antes da pandemia, portanto), o Brasil vinha conseguindo reduzir a evasão nessa etapa. Apesar disso, os números ainda são preocupantes: apenas 60% dos estudantes que começam esta etapa conseguem concluí-la.
Nesse mesmo balanço, na Suíça, 97% chegam ao final, e na Sérvia, 92%.
Em Camarões, o levantamento mais recente é de 2010, quando 36% terminaram os estudos.
Dados refletem realidade pré-pandemia, de 2019 — Foto: Arte/g1
Remuneração dos professores: suíços ganham mais de R$ 400 mil por ano
Esqueça a realidade da seleção brasileira na Copa do Mundo, com salários altos como o do atacante Neymar. Na educação, a realidade é bem diferente: o renomado relatório internacional “Education at a Glance” de 2022 mostra que, no Brasil, um professor do ensino médio ganha por ano, em média, R$ 75.374,37.
Na Suíça, para a mesma etapa, o valor é significativamente superior: cerca de R$ 400 mil, fazendo a conversão para o real.
Camarões e Sérvia não entraram no gráfico, porque divulgam estatísticas sob outros critérios — Foto: Arte/g1
Como esse balanço não inclui os outros dois adversários do Brasil, a comparação entre os quatro fica mais imprecisa. Veja abaixo os números disponíveis de ambos:
- Camarões, segundo a mídia local noticiou durante uma greve neste ano, paga cerca de R$ 27.600 por ano aos professores.
- Na Sérvia, a Comissão Europeia informa que docentes em início do carreira, em escolas públicas, ganham R$ 35.983,18 por ano – bem abaixo da média da União Europeia para esse mesmo contexto (R$ 135.700,00).
Do G1.