Homem morre depois de ser expulso da UPA de Petrolina e caminhar até Assentamento próximo a Lagoa Grande, denuncia comunitária
O comunitário, José Edimício Ferreira, 46 anos, faleceu na tarde desta quinta-feira, dia 22, depois de ter sido expulso da Unidade de Pronto Atendimento de Petrolina (UPA) e caminhar até o Assentamento Nova Vida, próximo a Lagoa Grande, sentido dores e vomitando sangue. Ele ainda teria tido atendimento negado no Hospital Universitário da Cidade, informou uma amiga da família em entrevista ao Nossa Voz. No momento do óbito, o paciente estava internado na cidade vizinha, Juazeiro-BA e sentia fortes dores no estômago.
De acordo com Josiane Conceição, foram duas semanas de agonia para os familiares. Ela explica que o homem foi internado na UPA de Petrolina no dia 12 onde “foram feitos os exames, tudo direitinho. Constou que ele tava com infecção, foi tratado e desde então a gente achava que era infecção, nenhum médico passou para a gente que seria algo grave”, explicou.
A comunitária disse que na madrugada de sexta (16) para sábado (17) o paciente chegou na casa dela, no Assentamento Nova Vida, vomitando sangue e sentindo ainda mais dores depois de percorrer todo o trajeto caminhando. “Isso duas horas da manhã. Ele disse ‘fui expulso da UPA’. Eu disse ‘Como é?'[…] O rapaz que tava com ele disse que a equipe médica juntou e arrancou o soro do braço dele e botou ele para fora às duas da madrugada como se fosse um cachorro”, afirmou Josiane. Em nota, a UPA de Petrolina afirmou que o paciente não foi expulso do serviço e sim dada alta médica. Mas não forneceu mais detalhes “por questões éticas e legais”, justificou a instituição.
A amiga do paciente acredita que a equipe médica confundiu uma coceira que José Edimício sentia na virilha com gestos obscenos. “A esposa dele já tinha chamado o médico e mostrado que ele estava com essa coceira. O outro médico que estava no outro plantão disse que ele estava fazendo gestos obscenos. Ele mal estava se levantando. O médico disse ‘tira esse estuprador daqui’ […]. Ele estava vomitando puro sangue”, informou Josineide sobre a situação.
No mesmo dia, à tarde, a comunitária disse ter levado o paciente para o Hospital Universitário de Petrolina, onde ele ficou por cerca de 40 minutos aguardando atendimento médico, o qual, segundo Josineide, foi negado. “Fomos para o Traumas uma da tarde e ele estava gritando de dor e disseram que ‘não podiam fazer nada’. Foi negado”, desabafou.
Um amigo da família teria então levado o paciente para Juazeiro. “Ele foi direto para a sala vermelha e o médico disse que o estado dele era gravíssimo. E ontem ele faleceu. Foi por negligência médica. A gente não aceita, ele é um homem do bem. Ele foi de pé até o ponto [de ônibus] Lagoa Grande e chegou vomitando sangue”, explicou Josineide.
A amiga da família garante que vai procurar a Justiça para que o caso seja apurado. Ela informou que retornou À UPA para ter acesso ao prontuário. “A gente foi lá antes dele falecer para pegar o prontuário para saber como essa alta se deu. Não se pode botar um paciente para fora. Ou ele é transferido ou ele está bom. Ele não assinou um termo, nem a família. Não existe alta administrativa. Uma pessoa morreu por falta de atendimento”, acusou. Ela acredita que os valores pessoais não podiam ter sido maiores do que a necessidade do paciente. “Até bandido quando tá ferido é atendido e ele foi colocado para fora”, desabafou.
A Unidade de Pronto Atendimento de Petrolina informou ainda, através de nota, que detalhes do caso serão repassados à família e que o prontuário e todos os documentos estão à disposição das autoridades para esclarecimento. Já a Assessoria de Comunicação do Hospital Universitário informou, por meio de nota, que “o senhor José Edimício Ferreira procurou atendimento no último sábado (17), onde foi examinado no setor de triagem do hospital que constatou que ele necessitava de atendimento clínico. Como o HU-Univasf é responsável pelos atendimentos de média e alta complexidade em traumato ortopedia, o paciente então recebeu toda a orientação necessária para procurar as unidades de referência capazes de oferecer o atendimento adequado de acordo com o seu caso clínico”.
A instituição ainda ressaltou que existe uma rede pública de assistência à saúde na nossa região e que cada unidade é responsável por um perfil de atendimento independentemente do município de origem do paciente e que o hospital se coloca à disposição para maiores esclarecimentos.
O corpo de José Edimício está sendo velado em Lagoa Grande e o enterro será ainda nesta manhã (23) (Grande Rio FM)