Esposa de vítima sepultada fora do cemitério em Santa Maria desabafa: “Pareceu que ele não tinha importância”
A comunitária Vagneriane Pereira, esposa de Sebastião Pereira – vítima do novo coronavírus (Covid-19) – deu detalhes ao Programa Carlos Britto, na Rural FM, nesta terça-feira (12) sobre os problemas de saúde do seu marido e a forma como foi sepultado, fora do cemitério, em Santa Maria da Boa Vista (PE). O fato gerou uma grande repercussão na cidade. “Ele tinha uma doença crônica, anemia falciforme, e tinha pegado dengue. Quando ele pegou a dengue, ele sentiu febre, dor no corpo, juntou com a anemia dele e ele não aguentou”, disse. Quanto ao resultado positivo para a Covid-19, “só chegou no dia da morte. A todo momento que eu estava indo pra UPA, fazendo exames de sangue e tudo, não deu Covid. Só deu dengue e anemia mesmo, que estava muito forte, estava desregulada”, lembrou.
Vagneriane explicou que nenhum familiar foi informado de que o esposo faria o teste para o novo coronavírus. “Não disseram nada. Nem que iam fazer teste do covid pra nós. Nem pra mim, que no dia que ele foi transferido para o [Hospital] Regional de Juazeiro. Lá fizeram uns exames no meu marido, e eu fiquei como acompanhante. Ele foi transferido ao meio dia pra lá, no domingo, e eu fiquei até às quatro e quarenta da tarde com ele”, contou.
Após o horário, seu cunhado ficou em seu lugar. “Quando foi cinco horas, o meu cunhado entrou como acompanhante, porque fui dormir com minhas filhas e nada disso nos disseram, que meu marido ia fazer algum teste. À meia noite, meu marido deu complicações respiratórias, dizendo elas que por causa da anemia, que ficou bastante forte e ele não estava aguentando as dores nas costas. Ele foi transferido para a UTI e entubado. Nisso eu só fiquei sabendo que ele foi pra UTI porque meu cunhado estava com ele, e não porque ninguém do hospital ligou, porque ninguém avisou nada pra família. Meu cunhado foi perguntar, e disse que eles só poderiam dar notícias dele às sete horas da manhã”, informou. Nesse momento, ficaram todos desesperados.
Sebastião foi sepultado do lado de fora do cemitério em Santa Maria da Boa Vista, e Vagneriane não entende a justificativa da gestão municipal. “Eu acho até engraçado a justificativa do prefeito. Ele disse que ali era um local apropriado para as pessoas que viessem a falecer do Covid-19. Quando estávamos no hospital, para saber para onde levar o corpo do meu marido, ligamos para Santa Maria. A assistente social do Hospital Regional, junto com uma prima minha que cuidou de tudo e ficou à frente, disse que lá já tinha os locais reservados pro Covid-19. Limpos e organizados, foi o que disseram bem claro. Foi o que Santa Maria falou para a assistente social”.
Ela soube da situação através das redes sociais. ”Foi um susto e uma indignação. Foi uma falta de respeito horrível. […] Não deu tempo nem de chegar lá, porque vimos pelas redes sociais que enterraram sim, fora mesmo e ao lado de entulho e madeira, ali daquele jeito horrível”, lamentou. Quanto ao local, “pelo o que a gente está acompanhando, estão construindo um muro. Já construíram metade, colocaram um portão, só falta pintar e consertar a catacumba do meu marido”.
Documentos
Ela também chamou a atenção para o fato de ter recebido dois documentos com resultados diferentes para a causa da morte do marido. “Quando chegamos ao SAF, disseram que meu marido ia ser enterrado dentro do cemitério, porque no laudo de falecido do meu marido está que ele morreu de Síndrome Respiratória Aguda Grave e da anemia falciforme. É o que está lá. Já em outra folha separada, que nos entregaram depois desse óbito estar pronto, que a gente nem sabia, foi que disseram que deu positivo para Covid-19. Aí deixou muito a desejar, a confundir a nossa mente e enterraram meu marido às onze horas, fora do cemitério”.
Além do sofrimento com a perda, a família de Sebastião também se sentiu diminuída. “Nos sentimos como se meu marido não tivesse importância para a sociedade”, disse ela. Vagneriane e as filhas do casal também não puderam estar no sepultamento. “Eu não pude ir, por conta que tenho duas filhas, fiquei no grupo de risco e quem foi não pôde entrar. Teve que acompanhar de longe”.
Texto: Blog do Carlos Britto.