Eixo da desinformação: políticos amplificam nas redes fake news sobre RS contestadas por autoridades
Passadas duas semanas desde o início das fortes chuvas no Rio Grande do Sul, autoridades e sociedade civil têm lidado com mais uma batalha além dos impactos físicos da tragédia: a desinformação. Levantamento do GLOBO localizou ao menos vinte notícias falsas diferentes que circularam neste período, amplificadas por políticos e artistas. Apenas as postagens originais tiveram 13,46 milhões de visualizações, segundo dados públicos das plataformas.
Na segunda-feira, na Câmara dos Deputados, sete deputados federais se tornaram alvo de representação judicial movida pelo PSOL por propagação de fake news durante sessão na Casa, segundo informou a colunista Bela Megale, do GLOBO. São eles Filipe Martins (PL-TO), Gilvan da Federal (PL-ES), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Caroline de Toni (PL-SC), General Girão (PL-RN), Coronel Assis (União-MT) e Coronel Ulysses (União-AC).
— Além do potencial de causar pânico e alarmar a população, as notícias falsas podem atrapalhar ações de resgate, colocar em risco a segurança das pessoas ou até mesmo impedir o acesso a mantimentos e medicamentos — afirma a pesquisadora Letícia Capone do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio.
Diante da propagação, o governo federal lançou no último domingo uma campanha de conscientização. Na semana passada, o governo já havia solicitado que a Polícia Federal instaurasse inquérito contra deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e o influenciador Pablo Marçal por publicações sobre as chuvas. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que Lula (PT) tomou medidas apenas após quatro dias de chuvas. A postagem se deu três dias após o governo reconhecer o estado de calamidade e iniciar a destinação de recursos.
Já Cleitinho e Marçal postaram que as doações com destino ao estado não estavam chegando por ausência de nota fiscal. A informação foi desmentida pelo secretário-chefe da Casa Civil, Arthur Lemos.
— As doações estão passando isentas e não há nenhuma cobrança de imposto — disse.
Também sobre fiscalização, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), divulgou que caminhões estavam sendo multados. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), um dia antes do post, contudo, havia negado. O vídeo do governador alcançou 2,9 milhões de pessoas. Outros políticos replicaram o mesmo conteúdo. O deputado Gilvan da Federal (PL-ES) usou a tribuna da Câmara para afirmar que barcos e moto aquáticas estariam sendo parados para comprovar documentação. Em vídeo, o coronel Douglas Soares, subcomandante geral da Brigada Militar, afirma que a instituição não está verificando nenhum tipo de autorização para pilotar embarcação.
Serviço de checagem
Entre as fakes news que mais repercutiram, destaca-se uma postagem feita pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmando que apenas o Ministério da Saúde pode repor os medicamentos em falta no estado. O parlamentar cita, em especial, a insulina, usada em tratamentos de diabetes. Dias antes, a Anvisa já havia se posicionado sobre o tema afirmando que não há empecilhos para doações de medicamentos.
Neste mesmo tema, deputados como Gustavo Gayer (PL-GO) e Paulo Bilynskyj (PL-SP) afirmaram que médicos teriam sido impedidos de trabalhar e que vacinas estão em falta no estado. Ambas as declarações já foram desmentidas. O PT acionou o Ministério Público contra Gayer.
— Não há desabastecimento de vacina ao estado do Rio Grande do Sul. Fake news seguem tentando promover caos — diz a ministra da Saúde Nísia Trindade.
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As doações também são alvo de notícias falsas. Sobre a criação do Pix oficial, duas notícias refutadas pelas autoridades foram criadas: a de que a Defesa Civil estava indo até casas de moradores pedir doações e de que o dinheiro seria utilizado pelo próprio governo. Em suas redes sociais, a vereadora de Fortaleza, Priscila Costa (PL), pediu aos seus seguidores para fazerem doações a igrejas e colocou em xeque o pix oficial.
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